Corria o ano de 1957 e o fotógrafo Otto Stupakoff, então instalado no Rio de Janeiro, encomendou ao amigo e arquiteto Sergio Rodrigues um sofá confortável, no qual pudesse se “refestelar” em seu estúdio da Rua Sambaíba, no Leblon. A história é conhecida, mas merece ser sempre lembrada porque também fez História: do “sofazão do Otto”, como Rodrigues chamou o projeto, para a criação da poltrona Mole, um ícone do mobiliário brasileiro e internacional ainda hoje, 60 anos depois de seu lançamento, foi um pequeno passo. Ou traço. A “parceria”, digamos assim, entre o fotógrafo e o arquiteto está destacada na exposição Otto Stupakoff: beleza e inquietude, em cartaz no Instituto Moreira Salles do Rio de Janeiro até dia 16 de abril. Além de uma réplica da famosa poltrona, o Instituto Sergio Rodrigues cedeu também o primeiro estudo do sofá, assim como imagens de publicidade do móvel feitas em 1958 pelo próprio Otto.
A sessão de fotos, aliás, também rendeu outra boa história. Para divulgar o sofá e outros móveis, o arquiteto e o fotógrafo levaram as peças para as areias da praia do Leblon que, deserta naquela tarde, fazia o papel de fundo infinito. Logo que os móveis foram distribuídos, porém, a maré subiu, encharcando tudo. “Foi engraçado, porque na hora foi uma aflição. Mas no dia seguinte, a exposição com a poltrona Mole foi inaugurada com comentários da imprensa dizendo que jogamos móveis ao mar, como se fosse uma espécie de despacho”, contou Sergio em uma entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, em fevereiro de 2006, oito anos antes de sua morte.
As fotos ilustraram o catálogo da Oca, revolucionária loja de arquitetura e design de interiores criada por Sergio em 1955. E a remuneração de Otto pelo trabalho foi um exemplar da poltrona, já que na época da encomenda ele não teve como pagar pela peça.
“Sergio contava que quando a equipe que criou o móvel fez o orçamento do custo, ficou um pouco alto para o Otto. Aí Sergio disse ‘deixa eu ver, talvez eu tenha errado alguma coisa’. E quando recalcularam o preço, ficou mais caro ainda”, lembra Fernando Mendes de Almeida, vice-presidente do Instituto Sergio Rodrigues, que ouviu muitas vezes do próprio arquiteto os casos em torno do móvel. “Sempre que falava da poltrona Mole ele contava a história toda. Isso valorizava a criação, e o Sergio sabia jogar luz sobre essas coisas, era divertido. Não entendia nada de assuntos mais pragmáticos, orçamento, valores. Essa parte sempre ficou com a Vera Beatriz (mulher, musa e grande amor da vida do arquiteto, que presidiu o instituto até sua morte, em 3 de janeiro deste ano). A palavra que cabe bem para ele é empreendedor. Ele sabia seduzir, fazer todo mundo acreditar em suas ideias”.