A experiência em São Paulo o aproximou definitivamente da criação
Era o ano de 1954. Sergio foi para São Paulo com a família e acabou indo morar numa casa enorme, de dois andares, perto da fábrica da Móveis Artesanal, no bairro que hoje é o Itaim Bibi. “Aí a vida foi escandalosa.”
A experiência em São Paulo o aproximou definitivamente da criação. “Frequentava a fábrica no Itaim, onde tive os primeiros contatos com uma indústria de móveis, suas máquinas e seus problemas.” Seus primeiros móveis tinham sido criados em Curitiba – uma mesa de jogo e uma escrivaninha – e desenvolvidos em uma pequena oficina e eram vendidos na Móveis Artesanal. Para ele, a fábrica fazia móveis de alto nível, com acabamento maravilhoso. “Eu fiquei entusiasmado, passava o dia inteiro lá, imaginando coisas. E já arriscava uns desenhos.”
Foi quando foi convidado por Carlo e Ernesto Hauner e os outros sócios para chefiar o departamento de criação de arquitetura de interiores da recém-inaugurada loja Forma, em São Paulo, expressiva indústria de móveis, mas ainda ligada à linguagem funcionalista que dominava o design internacional. Já trabalhando na Forma, que ocupava um casarão de três andares na rua Barão de Itapetininga, Sergio começou a ariscar mais desenhos. Fazia peças avulsas, como mesinhas de chá e laterais.
Nessa época, Sergio conheceu Lina Bo Bardi, que aparecia na fábrica para mandar produzir alguns projetos seus. Lina criava móveis considerados de vanguarda para seus projetos de arquiteturas e com ela Sergio manteve uma amizade que incluía longas conversas sobre o móvel moderno. Na capital paulistana, conheceu também importantes arquitetos como Ícaro de Castro Mello e J. Vilanova Artigas, que visitavam a Forma frequentemente, e o criador da casa modernista, Gregori Warchavchik. Eram trocas preciosas entre o jovem arquiteto, que sonhava em criar móveis, com importantes expoentes da modernidade na arquitetura e no mobiliário.
Com a veia criativa já querendo se soltar dos grilhões, Sergio, um dia, desenhou uma mesa maravilhosa e um sofá robusto ao qual deu o nome de sofá Hauner, em homenagem ao amigo. “Ele ficou entusiasmadíssimo.” Era um sofá com estrutura de madeira, assento e encosto com almofadões soltos e uma prateleira atrás. Mas quando apresentou o projeto aos outros sócios recebeu uma ducha fria. “Sofri uma decepção enorme. Joguei tudo naquela peça, acreditava na coisa. A firma já não era a Artesanal, porque havia mudado de sócios. Era a Forma. Um dos sócios, Martin Eisler, cheio de empáfia, disse: ‘Sergio deixa de fazer desenho de móvel, você não dá para isso, não tem futuro. O que você está fazendo aí não tem nada a ver. Quem vai comprar isso?’”