Sergio queria expor mais que o móvel: queria mostrar a cara do autor
A existência da Oca e a maneira como os produtos eram apresentados, com nome do designer e o material usado, abriu caminho para que o autor ganhasse protagonismo na criação do seu produto. Na época em que Sergio começou a desenhar móveis não havia no país o reconhecimento do autor. “O primeiro momento do design brasileiro é marcado por um design que não tem autores. A mudança desse paradigma é uma coisa muito recente na história, talvez de uns vinte anos para cá”, afirma o pesquisador e crítico de arte Afonso Luz. A proeminência do autor como um elemento central no design começa a surgir a partir das criações de Sergio, mas também muito em função de uma prática adotada por ele na Oca, onde cada móvel trazia o nome do autor e o material usado. Essa tendência era mais forte ainda nas exposições que organizava na loja. “Minha intenção era expor não só o móvel”, afirmava Sergio, que queria mostrar muito mais do que o produto.
Desde o primeiro momento em que abriu as portas, a loja começou a inovar. Logo começaram a usar o espaço da Oca para expor trabalhos de artistas plásticos, mas também para fazer experiências na área do design. Uma delas foi a célebre exposição Móvel como Objeto de Arte, inventada e coordenada por Sergio.
Para Afonso Luz, essa exposição “é uma das referências históricas mais importantes para a ideia do design de autor, até mesmo em plano internacional, uma exposição que antecipa muito esta tendência contemporânea, (...) esse olhar que vê o design como arte.” Para ele, a poltrona Chifruda, que aparece nessa exposição e nasceu batizada de Aspas, é um marco disso.
A exposição nasceu de uma inquietação de Sergio. O ano era 1962. Nessa época, a poltrona Mole já estava em produção, apesar de Sergio achar que ainda não tinha um respaldo comercial adequado. Coisa que foi acontecer muito tempo depois com toda a sua obra. Sergio achava que não se dava à criação do móvel o devido valor, como se dava ao autor de um quadro ou ao criador de um tapete. “Eu achava que o pessoal não considerava um móvel como um objeto de arte. Nas revistas, na mídia, só se falava em ambientes de interior. Citavam os quadros, o autor do quadro, dos tapetes, assinalando o material usado, falavam de tudo, mas não mencionavam os móveis. Não falavam na cama, no sofá, na cadeira, na poltrona, como se esses objetos não fossem criações de alguém.” Falavam até nos tecidos, materiais de revestimento, mas não no criador. Aquilo o incomodava. “Não davam essa atenção devida. Eu queria que tivesse essa atenção.”