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Sergio Rodrigues - O Brasil na ponta do lápis

Texto e pequisa: Regina Zappa

O reconhecimento no exterior e os prêmios

“Foram vendidas 14 peças da poltrona Diz. A loja nunca havia vendido tantas peças assim logo na primeira exibição.” (Sergio Rodrigues)



“Foram vendidas 14 peças da poltrona Diz. A loja nunca havia vendido tantas peças assim logo na primeira exibição.” (Sergio Rodrigues)

Em 2004, Sergio Rodrigues ganhou sua primeira mostra individual no exterior, mais precisamente em Nova York, na 25th Century, galeria de Tribeca. Ele tinha, então, 78 anos. A exposição aconteceu quarenta e três anos depois que ele venceu o IV Concurso Internacional do Móvel em Cantu, na Itália. Era como se Sergio estivesse sendo redescoberto, depois de seus móveis serem atração exclusiva da loja Brazilian Interiors, em Carmel, na Califórnia, entre 1966 e 1968, e depois da poltrona Mole passar a integrar, em 1974, a coleção de design do Museum of Modern Art (MoMA), de Nova York.

Dois anos depois da exposição, Sergio falou ao repórter Mario Giola, da F. de São Paulo, sobre a valorização do seu trabalho fora do Brasil, em entrevista intitulada Sergio Rodrigues, designer tropical e comentou a exposição de Nova York: “Há três anos veio aqui ao Rio um grupo de Nova York que possui uma galeria de arte e de venda de peças antigas – eles chamam de vintage –, a R 20th Century. Eles já vendiam minhas peças, as do Zanine [José Zanine Caldas, 1919-2001, designer baiano de móveis] e as do Tenreiro [Joaquim Tenreiro, 1906-1992]. Eles ficaram entusiasmados com os novos móveis feitos pela LinBrasil. Resolveram levar algumas peças antigas e uma que eu tinha acabado de fazer. Era a poltrona Diz, minha última ‘filha’. Eu estava e ainda estou alucinado por ela. Fui convidado para uma exposição que eles iriam fazer em Tribeca, onde fica a galeria, com meus móveis. Quando cheguei lá, vi na vitrine da loja a poltrona Diz. Depois de uma semana, o dono da loja falou todo entusiasmado que tinha vendido 14 peças. Nunca havia vendido tantas peças assim logo na primeira exibição. Eles continuaram a comprar novas peças, e eu continuo a fazer novos desenhos.”

Os críticos acreditam que as características de brasilidade estiveram na base do interesse que Sergio sempre despertou fora do Brasil e das muitas reportagens publicadas sobre seu trabalho na imprensa internacional. Outra razão para esse interesse foi a crescente valorização do design brasileiro no exterior. Aliás, a cultura brasileira foi ganhando mais espaço na mídia internacional e abrindo frentes para que também crescesse o interesse pelo Brasil de uma forma geral.

A jornalista paulista Adélia Borges, especializada em design brasileiro, tem a nítida sensação dessa mudança e acredita que, atualmente, o Brasil tem outro status no universo das criações de design. “Nos anos 1980, quando eu frequentava feiras internacionais e dizia que era uma jornalista brasileira alguns estandes não davam entrevista, fechavam a cara e diziam que brasileiro era copiador. Havia uma predominância no Brasil das indústrias que copiavam coisas feitas fora do Brasil. Hoje quando digo que sou brasileira, sou vista com interesse, respeito e curiosidade. Esse interesse pelo design brasileiro foi muito puxado pelos irmãos Campana, quando fizeram uma exposição no MoMA de Nova York. Desde 1989, os Campana vinham produzindo em escala artesanal: projetavam coisas e produziam por conta própria em baixíssima tiragem. Aí veio uma grande indústria italiana, a Edra, que passou a produzi-los e a divulgá-los. Passaram a ser estrelas no salão do móvel de Milão. Nesse momento, dois brasileiros é que ditavam as tendências. Abriram caminho para o que estava acontecendo no Brasil como um todo. Mas a premiação do Sergio, em 1961, foi um primeiro momento de reconhecimento.”

Em 1961, a empresa Isa, de Bergamo, na Itália, começou a produzir a poltrona Mole e a rebatizou de Sheriff. Houve uma enorme divulgação. Essa empresa chegou a dar de presente a poltrona para personalidades da época, como Nikita Kruschev e o Papa Pio XII, o presidente John Kennedy e a Rainha Elizabeth. “O mundo hoje está mais multicutural com trocas multidirecionais e com isso o design brasileiro que não tinha visibilidade, neste momento ele teve o que mostrar”, garante Adélia.

Em 1989, o conjunto da obra de Sergio recebeu o Prêmio Lapiz de Plata da Bienal de Arquitetura de Buenos Aires. Em 1993, ele participou da mostra Convegno Brasile – La Costruzione de uma Identita Culturale, em Brescia, na Itália, junto com Zanine Caldas e Lucio Costa – chamou-se Mobiliário, Arquitetura e Urbanismo. Em 2004, foi tema da exposição individual Sultan in the Studio, na galeria R20th Century, em Nova York. 

A seguir, alguns prêmios recebidos e mostras ao longo da carreira de Sergio:

Prêmios
IV Concurso Internacional do Móvel em Cantu, na Itália, primeiro prêmio (1961)
Prêmio IAB para a poltrona Kilin (1975)
4º Premio Movesp Design de Mobiliário, São Paulo (1991)
Prêmio Design no Museu da Casa Brasileira: 1º lugar poltrona Diz, na categoria mobiliário (2006)
Medalha de Grão Mestre da Ordem de Rio Branco, no Palácio Itamaraty, no Rio de Janeiro (2003)
Premio Lapiz de Plata – Buenos Aires
1º Prêmio Móvel Brasil de Desenvolvimento de Produto, em Santa Catarina (2009)
Medalha da Ordem do Mérito Cultural, entregue pelo vice-governador Luiz Fernando Pezão, no Rio de Janeiro (2009).

Exposições
1982 – O Design no Brasil: História e Realidade – SESC/São Paulo
1984 – Cadeira: Evolução e Design – Museu da Casa Brasileira, São Paulo
1991 – Falando de Cadeira – Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro
1992 – Saudades do Brasil: A Era JK – Exposição Itinerante
1993 – Mostra Brasille93 – La Construzione Di Una Identità Culturale – Universidade de Brescia, Itália
1997 – Quarenta anos de Mole – Rio Design Leblon, Rio de Janeiro
1998 – Mostra Internacional do Design – Método e Industrialismo – CCBB, Rio de Janeiro
2004 – Exposição na R20th Century, Nova York
2007 – Exposição de móveis na Feira de Milão, promovida pela LinBrasil.
2008 – Bienal Iberoamericana de Diseño – Madri, Espanha
2008 – Brasil Casa Design – Buenos Aires, Argentina.
2008 – Time and Place: Rio de Janeiro 1956/1964 – Moderna Musset, Estocolmo, Suécia
2009 – Brazil Influence – Bruxelas, Bélgica.
2010 – Sergio Rodrigues: Um Designer dos Trópicos – Rio de Janeiro, Brasil
2012 – Mostra Sergio Rodrigues – Sou Rio, essa bossa é nossa, Fashion Rio, Rio de Janeiro (curadoria Mari Stockler).

Fotografia da revista Look em 1963, ilustrando o primeiro prêmio da poltrona Sheriff criada por Sergio Rodrigues na quarta mostra seletiva internacional de móveis, em Cantú na Itália, 1961.

Sergio Rodrigues e Vera Beatriz na entrega da Medalha de grão-mestre da Ordem do Rio Branco no Palácio Itamaraty, no Rio de Janeiro em 18-09-2003.